O bloqueio de ramo mascarado é uma condição rara que desafia a interpretação eletrocardiográfica e está associada a uma condução intraventricular anormal com impacto clínico significativo. Este termo foi descrito inicialmente em 1954 por Richman e Wolff para indicar um padrão de bloqueio de ramo direito (BRD) nas derivações precordiais e de bloqueio de ramo esquerdo (BRE) no plano frontal, refletindo uma lesão extensa no sistema de condução com fibrose cardíaca associada.
Critérios Eletrocardiográficos
O diagnóstico de bloqueio de ramo mascarado inclui:
- Onda R proeminente em V1 (sugerindo BRD).
- Desvio de eixo para a esquerda no plano frontal.
- Ondas S ausentes ou < 1 mm em D1 e aVL, imitando o padrão de BRE.
Rosenbaum classificou o bloqueio de ramo mascarado em dois tipos:
- Tipo padrão: ausência de ondas S em D1 e aVL.
- Tipo precordial: ausência de ondas S em V5 e V6.
Mecanismo do Bloqueio
Esse bloqueio ocorre quando o BRD é acompanhado por um bloqueio avançado do fascículo anterossuperior e alterações estruturais no ventrículo esquerdo, como hipertrofia significativa e/ou fibrose extensa. A combinação desses fatores direciona as forças terminais para a esquerda, cancelando as forças típicas do BRD e eliminando as ondas S nas derivações D1 e aVL.
Considerações Clínicas e Prognóstico
O prognóstico para pacientes com bloqueio de ramo mascarado é geralmente reservado devido à associação dessa condição com doenças cardíacas estruturais graves e risco aumentado de eventos adversos. Este padrão eletrocardiográfico, que imita um bloqueio de ramo esquerdo (BRE) em algumas derivações, está frequentemente ligado a uma lesão avançada e extensa do sistema de condução, além de ser um indicativo de fibrose significativa e hipertrofia ventricular esquerda. Esses fatores contribuem para um aumento da mortalidade e indicam um prognóstico mais desfavorável.
Estudos demonstraram que pacientes com bloqueio de ramo mascarado apresentam uma maior incidência de progressão para bloqueios atrioventriculares avançados (BAV) ou bloqueio atrioventricular total (BAVT), muitas vezes necessitando de um marcapasso definitivo. Além disso, a condição costuma ser um marcador de mau prognóstico em razão do alto risco de morte súbita e de complicações adicionais associadas à disfunção ventricular significativa.
Referências
- Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.
- Scheffer MK, De Marchi MFN, Costa ACM. Right Bundle-Branch Block Pattern in Precordial Leads and Left Bundle-Branch Block Pattern With Left Axis Deviation in Frontal Plane Leads—What Does This Mean? JAMA Intern Med. 2022. 1;182(12):1315.
