A nova diretriz europeia sobre fibrilação atrial (FA) trouxe atualizações significativas no algoritmo CHA2DS2-VASc, utilizado para estratificação do risco de eventos tromboembólicos e a decisão sobre a necessidade de anticoagulação. O CHA2DS2-VASc é amplamente adotado em diversos países e continua a ser uma ferramenta prática e simples para orientar a anticoagulação oral (ACO) em pacientes com FA. Contudo, novas recomendações têm gerado discussões importantes na prática clínica.
O Que Mudou?
Anteriormente, o algoritmo CHA2DS2-VASc incluía gênero feminino como um critério independente de risco. No entanto, a nova diretriz esclarece que o sexo feminino é um modificador de risco dependente da idade, e não um fator de risco isolado. Isso significa que mulheres jovens e sem outros fatores de risco não devem ser automaticamente classificadas como de alto risco. Na prática, isso simplifica o uso do escore e evita a prescrição desnecessária de anticoagulantes em mulheres apenas por seu gênero.
Além disso, a nova diretriz propõe o uso de um novo escore, o CHA2DS2-VA, que exclui o sexo feminino como critério e se concentra em fatores como insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão, idade avançada (≥75 anos), diabetes mellitus, acidente vascular cerebral prévio, doença vascular e idade entre 65-74 anos. Essa mudança reflete uma abordagem mais individualizada, levando em consideração o contexto clínico de cada paciente.
Biomarcadores e Fatores de Risco Emergentes
Outro ponto relevante da nova diretriz é o reconhecimento de novos fatores de risco para AVC em pacientes com FA, que ainda não estão completamente incorporados aos algoritmos de pontuação de risco tradicionais. Entre eles, estão condições como câncer, doença renal crônica e biomarcadores específicos, como troponina e peptídeos natriuréticos. Esses fatores têm se mostrado importantes na estratificação de risco, mas ainda carecem de validação em estudos clínicos randomizados. Estudos estão em andamento para avaliar como esses biomarcadores podem ser utilizados na prevenção de AVC em pacientes anticoagulados.
A Importância da Abordagem Individualizada
A diretriz enfatiza que, embora os escores de risco como o CHA2DS2-VASc e CHA2DS2-VA sejam úteis, eles não devem ser a única ferramenta na tomada de decisões sobre anticoagulação. A avaliação deve ser individualizada, levando em consideração outros fatores clínicos específicos do paciente, como comorbidades, estilo de vida e preferências. Isso envolve uma abordagem centrada no paciente, onde as decisões são compartilhadas entre o médico e o paciente, garantindo que o tratamento seja ajustado às necessidades e expectativas individuais.
Conclusão
A nova diretriz europeia de fibrilação atrial traz importantes atualizações para o uso do algoritmo CHA2DS2-VASc, com a introdução do escore CHA2DS2-VA, que elimina o sexo feminino como critério de risco independente. Além disso, o reconhecimento de novos fatores de risco e a necessidade de uma abordagem individualizada reforçam a complexidade da estratificação de risco e a importância de personalizar o tratamento. Como a pesquisa sobre biomarcadores e fatores de risco emergentes continua a evoluir, espera-se que novas evidências moldem ainda mais a prática clínica e otimizem o manejo de pacientes com FA.
Referências
- Van Gelder IC, Rienstra M, Bunting K V, Casado-Arroyo R, Caso V, Crijns HJGM, et al. 2024 ESC Guidelines for the management of atrial fibrillation developed in collaboration with the European Association for Cardio-Thoracic Surgery (EACTS). Eur Heart J [Internet]. 2024 Aug 30;42(5):373–498.