A bradicardia sinusal é uma condição caracterizada pela redução da frequência cardíaca sinusal para menos de 50 batimentos por minuto (bpm). Embora possa ser uma variação fisiológica em algumas pessoas, especialmente em atletas ou durante o sono, em outras situações pode indicar uma disfunção significativa do nó sinusal, conhecida como doença do nó sinusal.
Causas de Bradicardia Sinusal
As causas da bradicardia sinusal podem ser divididas em fisiológicas e patológicas:
- Fisiológicas:
- Atividade física intensa: atletas apresentam bradicardia sinusal devido a adaptações cardíacas que aumentam a eficiência do coração.
- Repouso e sono: durante o sono, o sistema nervoso parassimpático domina, diminuindo a frequência cardíaca.
- Patológicas:
- Disfunção do nó sinusal (DNS): comumente relacionada a fibrose ou degeneração do tecido nodal.
- Medicações: bloqueadores beta, bloqueadores dos canais de cálcio (não-diidropiridínicos), amiodarona e outros antiarrítmicos podem diminuir a frequência cardíaca.
- Distúrbios metabólicos e endócrinos: como hipotireoidismo, hipercalemia e hipotermia.
- Isquemia e infarto: redução do fluxo sanguíneo ao nó sinusal pode comprometer sua função.
- Doenças neuromediadas: condições como a síndrome vasovagal ou aumento do tônus vagal em situações de estresse podem desencadear bradicardia sinusal.
Fisiopatologia da Bradicardia Sinusal
A bradicardia sinusal resulta de um aumento do tônus vagal (parassimpático) ou de uma disfunção primária do próprio nó sinusal. O nó sinusal é o principal marcapasso do coração, responsável por iniciar o impulso elétrico que regula os batimentos cardíacos. Quando sua função é comprometida, a geração de impulsos elétricos diminui, levando a uma redução da frequência cardíaca.
Na doença do nó sinusal (DNS), alterações estruturais e funcionais, como fibrose ou inflamação, afetam a capacidade do nó em gerar e conduzir impulsos de maneira adequada. Essa condição, associada a doenças cardíacas estruturais ou processos degenerativos, pode resultar em bradicardia severa, pausas sinusais ou episódios de bloqueio sinoatrial, com impacto direto na perfusão e, portanto, na função hemodinâmica do paciente.
Critérios Eletrocardiográficos
Os principais critérios eletrocardiográficos para diagnóstico da bradicardia sinusal incluem:
- Frequência cardíaca inferior a 50 bpm: medida em repouso, em ritmo regular.
- Ondas P normais: indicando origem no nó sinusal, com eixo P positivo em D1, D2 e aVF, e negativo em aVR.
- Intervalo PR constante: sem variações significativas, evidenciando condução atrioventricular regular.
Esses achados são típicos de uma bradicardia sinusal normal. Contudo, em casos de doença do nó sinusal, podem ser observadas pausas sinusais, bloqueios sinoatriais ou episódios de bradicardia-taquicardia, que indicam uma disfunção mais grave do nó sinusal.
Doença do Nó Sinusal (DNS)
A doença do nó sinusal representa uma variedade de distúrbios que afetam a função do nó sinusal. Ela é mais comum em idosos e pode resultar de uma combinação de fatores como fibrose, isquemia e alterações degenerativas. Os tipos principais de disfunção incluem:
- Bradicardia sinusal persistente: frequência cardíaca continuamente baixa, que pode levar a sintomas de baixo débito cardíaco.
- Parada sinusal e bloqueio sinoatrial: interrupção ou atraso na condução do impulso, levando a pausas no ritmo cardíaco.
- Síndrome bradicardia-taquicardia: alternância entre bradicardia e episódios de taquicardia atrial ou fibrilação atrial, um quadro comum na DNS.
Pacientes com DNS podem apresentar sintomas como fadiga, tonturas, síncope e, em casos graves, insuficiência cardíaca. O tratamento muitas vezes inclui o uso de marcapasso definitivo, especialmente em pacientes sintomáticos ou com pausas prolongadas que comprometem a perfusão cerebral e cardíaca.
Considerações Clínicas e Tratamento
A bradicardia sinusal pode ser assintomática ou causar sintomas relacionados à redução do débito cardíaco, como tontura, fadiga e síncope. A abordagem clínica depende da causa subjacente e dos sintomas do paciente:
- Assintomáticos: geralmente, não requerem tratamento específico, especialmente em casos de bradicardia fisiológica (como em atletas).
- Sintomáticos: quando os sintomas estão presentes, é essencial identificar a causa. A suspensão de medicações bradicardizantes ou o tratamento de condições subjacentes, como o hipotireoidismo, pode ser necessário.
- Doença do nó sinusal: em casos de DNS com sintomas de baixo débito, a colocação de marcapasso pode ser indicada para manter uma frequência cardíaca estável e prevenir episódios de síncope ou bradiarritmias severas.
Conclusão
A bradicardia sinusal é um distúrbio que pode variar de uma condição fisiológica a uma manifestação de doença do nó sinusal. O entendimento das causas, dos critérios eletrocardiográficos e da fisiopatologia é essencial para um diagnóstico e manejo adequados. Em pacientes com DNS e bradicardia sintomática, a terapia com marcapasso é muitas vezes a solução mais eficaz para aliviar os sintomas e prevenir eventos graves, garantindo uma qualidade de vida melhor para esses pacientes.
Referências
- Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.
- Alencar JN. Tratado de ECG. 2022.