A taquicardia de QRS largo, com complexos QRS superiores a 120 ms e frequência cardíaca acima de 100 bpm, é geralmente causada por taquicardia ventricular (TV) ou taquicardia supraventricular com aberrância (TSV-A). Diversos algoritmos diagnósticos, como o algoritmo de Brugada e o algoritmo de Vereckei-aVR, foram desenvolvidos para auxiliar na diferenciação entre essas duas condições, oferecendo maior precisão no diagnóstico. Embora os algoritmos aumentem a acurácia na avaliação, é fundamental que o diagnóstico seja complementado pela experiência clínica e pela análise cuidadosa do eletrocardiograma.
Causas de Taquicardia de QRS Largo
As causas de taquicardia de QRS largo são diversas, abrangendo tanto arritmias ventriculares quanto condições supraventriculares com mecanismos de condução alterados. Entre as causas principais, destacam-se:
- Taquicardia Ventricular (TV): Uma das causas mais comuns, caracterizada por sua origem nos ventrículos, frequentemente associada a doenças estruturais do coração.
- Taquicardia Supraventricular com Aberrância de Condução: Ocorre quando uma taquicardia supraventricular (TSV) é conduzida com aberrância devido a um bloqueio de ramo pré-existente ou funcional, o que aumenta a duração do QRS.
- Taquicardia Supraventricular com Condução através de uma Via Acessória: Nesse caso, o QRS largo pode ser causado por TSV pré-excitada ou por uma taquicardia por reentrada atrioventricular (TRAV) com condução antidrômica, em que a excitação passa por uma via acessória.
- Taquicardia Supraventricular com Uso de Drogas Antiarrítmicas: Algumas medicações antiarrítmicas das classes IA e IC podem prolongar a duração do QRS, causando um padrão de QRS largo mesmo em arritmias supraventriculares.
- Distúrbio Hidroeletrolítico (Hipercalemia): A hipercalemia severa pode alterar a condução elétrica cardíaca, resultando em um padrão de QRS largo.
- Marcapasso com Comando Ventricular: Em pacientes com marcapasso, a estimulação ventricular direta também gera um QRS largo, uma vez que o estímulo elétrico não segue a condução natural do sistema elétrico do coração.
Algoritmos das Taquicardias de QRS Largo
Abaixo, apresentamos os algoritmos de Brugada, Vereckei e Basel, amplamente utilizados para auxiliar no diagnóstico diferencial das taquicardias de QRS largo. Esses algoritmos oferecem critérios específicos para distinguir entre taquicardias ventriculares e taquicardias supraventriculares com aberrância de condução, facilitando uma abordagem sistemática e aprimorando a acurácia diagnóstica.
Algoritmo de Brugada
Publicado em 1991 pelos irmãos Josep e Pedro Brugada, o algoritmo de Brugada foi o primeiro algoritmo sistematizado criado para ajudar na diferenciação entre taquicardia ventricular (TV) e taquicardia supraventricular com aberrância (TSV-A).
Baseado em uma sequência lógica de quatro etapas, o algoritmo analisa características específicas do ECG. Se qualquer um dos critérios for positivo, o diagnóstico favorece taquicardia ventricular.
Mesmo com o surgimento de algoritmos mais recentes, o de Brugada permanece como o mais conhecido, amplamente ensinado e utilizado no mundo, sendo um marco na abordagem das taquicardias de QRS largo.

Algoritmo de Vereckei-aVR
O algoritmo de Vereckei aVR foi publicado em 2008 por László Vereckei e colegas como uma alternativa simplificada para diferenciar taquicardias de QRS largo e se consolidou como uma ferramenta útil por sua simplicidade,
O diferencial deste algoritmo é o foco exclusivo na derivação aVR, permitindo uma análise mais rápida e prática, especialmente útil em situações de emergência ou quando o traçado é de difícil interpretação.
De forma similar ao algoritmo de Brugada, ele consiste em uma sequência de até quatro passos. Se qualquer um dos critérios for positivo, o diagnóstico favorece taquicardia ventricular.

Algoritmo de Basel
O algoritmo de Basel, descrito em 2022 por Moccetti e colaboradores da Universidade de Basel/Suíça, propôs uma abordagem integrada, unindo critérios clínicos e eletrocardiográficos para diferenciar taquicardia ventricular (TV) de taquicardia supraventricular com aberrância (TSV‑A).
Sua lógica é simples e eficaz: TV é diagnosticada se pelo menos 2 dos 3 critérios seguintes estiverem presentes:
- Critério clínico: achado de “alta probabilidade” — como história de cardiopatia estrutural.
- Critério eletrocardiográfico – derivação D2: tempo do início do QRS até o primeiro pico > 40 ms.
- Critério eletrocardiográfico – derivação aVR: tempo até o primeiro pico > 40 ms.

Referências
- Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.
- Alencar JN De, Carvalho GD De, Campelo RT, Felicioni SP, et al. Manejo de Taquicardias de Complexo QRS Alargado na Sala de Emergência: O Que Realmente Importa. Arq Bras Cardiol. 2024;121(6):1–4.
- Brugada P, Brugada J, Mont L, Smeets J, et al. A new approach to the differential diagnosis of a regular tachycardia with a wide QRS complex. Circulation. 1991;83(5):1649–59.
- Vereckei A, Duray G, Szénási G, Altemose GT, et al. New algorithm using only lead aVR for differential diagnosis of wide QRS complex tachycardia. Hear Rhythm. 2008;5(1):89–98.
- Moccetti F, Yadava M, Latifi Y, Strebel I, et al. Simplified Integrated Clinical and Electrocardiographic Algorithm for Differentiation of Wide QRS-Complex Tachycardia. JACC Clin Electrophysiol. 2022.