Fenômeno de Wenckebach: O Que Você Precisa Saber

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O fenômeno de Wenckebach é um dos tipos de bloqueio atrioventricular que mais intriga cardiologistas. Identificá-lo é essencial para compreender o comportamento elétrico do coração em diversas situações clínicas. Neste post, vamos explorar em detalhes como o fenômeno de Wenckebach se apresenta no eletrocardiograma (ECG) e quais são suas implicações clínicas. Leia até o final para entender como diferenciá-lo de outros tipos de bloqueios e qual é a importância desse fenômeno no contexto da prática médica.

O Que é o Fenômeno de Wenckebach?

O fenômeno de Wenckebach, também conhecido como bloqueio atrioventricular de segundo grau tipo I, ou Mobitz I, caracteriza-se pela progressiva lentificação da condução entre os átrios e os ventrículos, levando eventualmente à falha de condução de um impulso atrial. Essa falha resulta em uma pausa ventricular que é menor que o dobro do intervalo R-R prévio, o que contribui para o comportamento cíclico típico desse fenômeno.

No ECG, o Wenckebach se manifesta por um prolongamento progressivo do intervalo PR, até que um complexo QRS seja bloqueado, após o qual o ciclo recomeça. Este fenômeno ocorre devido ao aumento do tempo de condução no nó atrioventricular (AV), onde cada impulso sucessivo encontra o nó AV em uma fase mais refratária, resultando em uma condução cada vez mais lenta até que um impulso não seja conduzido.

Eletrocardiograma com bloqueio atrioventricular de segundo grau mobitz 1
ECG | BAV de 2º grau Mobitz I

Características do Fenômeno de Wenckebach

Para entender melhor o fenômeno de Wenckebach, é importante reconhecer suas principais características no ECG:

  1. Prolongamento Progressivo do PR: A cada batimento, o intervalo PR se prolonga gradualmente até que um batimento seja bloqueado.
  2. Pausa Menor que o Dobro do Intervalo R-R: A pausa entre os complexos QRS, após o bloqueio, é menor que o dobro do intervalo R-R prévio.
  3. Diminuição Progressiva do Intervalo R-R: Durante o ciclo de Wenckebach, há uma diminuição dos intervalos R-R até que ocorra o bloqueio.
  4. Batimentos Agrupados: O fenômeno de Wenckebach é frequentemente descrito como apresentando “batimentos agrupados” ou “condução em grupos”, com ciclos repetidos de PR progressivamente prolongado e eventual falha de condução.

Essas características tornam o fenômeno de Wenckebach um padrão fácil de ser identificado para cardiologistas experientes, mas ele pode ser confundido com outros tipos de bloqueios, como o Mobitz II, especialmente em casos atípicos. É importante lembrar que, em Wenckebach, o bloqueio ocorre predominantemente no nó AV, enquanto o Mobitz II geralmente está associado ao sistema His-Purkinje.

Implicações Clínicas do Fenômeno de Wenckebach

O fenômeno de Wenckebach costuma ser benigno e é frequentemente encontrado em indivíduos jovens e atletas, especialmente durante o sono ou em situações de aumento do tônus vagal. Nessas condições, a adaptação do sistema cardíaco ao aumento do tônus parassimpático resulta em um bloqueio funcional e fisiológico que raramente requer intervenção.

Entretanto, quando observado em pacientes idosos ou associado a sintomas como tontura, síncope ou insuficiência cardíaca, o fenômeno de Wenckebach pode indicar comprometimento significativo do nó AV ou doença estrutural subjacente. Nessas situações, uma avaliação mais aprofundada é necessária, e o uso de um marca-passo pode ser considerado para evitar pausas prolongadas e síncope.

Wenckebach Atípico: Um Desafio Diagnóstico

Nem todos os casos de Wenckebach seguem o padrão típico descrito acima. Casos atípicos são particularmente comuns em pacientes com dupla fisiologia do nó AV ou sob o efeito de alta estimulação vagal. Em tais casos, o padrão de prolongamento do PR pode ser irregular, tornando o diagnóstico mais desafiador. Isso destaca a importância de uma análise cuidadosa dos ciclos PR-RR e, quando necessário, a realização de um estudo eletrofisiológico para confirmação do diagnóstico.


Pontos Importantes

  • O fenômeno de Wenckebach é um tipo de bloqueio atrioventricular de segundo grau caracterizado pelo prolongamento progressivo do intervalo PR, seguido de falha de condução.
  • É geralmente benigno e comumente encontrado em indivíduos jovens e atletas, mas pode ter implicações clínicas significativas em pacientes idosos ou sintomáticos.
  • O diagnóstico diferencial com outros tipos de bloqueio, como Mobitz II, é essencial para a correta abordagem terapêutica.
  • Em casos atípicos, a interpretação do ECG pode ser um desafio, exigindo uma compreensão detalhada do comportamento eletrofisiológico do nó AV.

Referências

  1. Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.
  2. Issa Z, Miller J, Zipes D. Clinical Arrhythmology and Electrophysiology: A Companion to Braunwald’s Heart Disease. 3a ed. Philadelphia: Elsevier; 2019. 752 p.
  3. Mond HG, Vohra J. The Electrocardiographic Footprints of Wenckebach Block. Heart, Lung and Circulation. 2017.
  4. Hansom SP, Golian M, Green MS. The Wenckebach Phenomenon. Current Cardiology Reviews. 2021.

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Matheus Kiszka Scheffer

Matheus é médico do setor de Tele-Eletrocardiografia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC), autor do livro Eletrocardiograma de A a Z e editor-chefe do site "Aprenda ECG". Possui especialização em Eletrofisiologia Clínica e residência médica em Cardiologia e Clínica Médica.