O aneurisma ventricular esquerdo é uma área de miocárdio infartado que se projeta para fora do contorno ventricular durante a sístole e a diástole, sendo uma possível complicação de infarto agudo do miocárdio (IAM). Ocorre principalmente em oclusões de descendente anterior ou coronária direita dominante devido à isquemia e consequente necrose tecidual.
Tal complicação é caracterizada por alterações patológicas na contratilidade do ventrículo esquerdo e fibrose miocárdica, com consequentes alterações eletrocardiográficas relacionadas, como áreas eletricamente inativas e alterações secundárias do complexo ST-T.
Critérios Eletrocardiográficos
Vejamos os critérios eletrocardiográficos do aneurisma ventricular:
- Supradesnivelamento do ST em pelo menos duas derivações contíguas
- Ondas Q ou QS em pelo menos duas derivações contíguas acompanhando o supradesnivelamento do ST
- Ondas T comumente invertidas, bifásicas ou de baixa amplitude
- Fragmentações de QRS podem estar presentes
- Onda R proeminente em aVR (Sinal de Goldberger) pode estar presente
Seguem alguns exemplos:


Como Diferenciar o Aneurisma Ventricular de OCA de Parede Anterior
As alterações de repolarização características do padrão de aneurisma ventricular esquerdo tornam sua diferenciação eletrocardiográfica de quadros agudos ou subagudos de OCA acometendo parede anterior desafiadora, especialmente pelos supradesnivelamentos do ST crônicos e inversão terminal de onda T.
Diante desse desafio, Stephen Smith desenvolveu critérios de diferenciação baseados no quociente entre as amplitudes da onda T e do QRS precedente (razão T/QRS) e na razão entre as suas somas de V1 a V4 (razão ΣT/ΣQRS). Tais critérios encontram-se na tabela abaixo, com suas respectivas razões de verossimilhança positiva (RV+) e negativa (RV-) para OCA:
Critério | RV+ | RV- |
T/QRS ≥ 0.36 em ao menos uma derivação de V1 a V4 | 4,89 | 0,10 |
ΣT/ΣQRS ≥ 0,22 (V1 a V4) | 2,93 | 0,12 |

Além desses critérios, eletrocardiogramas seriados são valiosos na diferenciação entre esses dois laudos. De fato, um padrão estático diante do sequenciamento desfavorece um quadro agudo, enquanto alterações dinâmicas eletrocardiográficas compatíveis com a evolução do IAM o favorecem. A falta de sinais recíprocos também desfavorece a associação do supradesnivelamento de ST a infarto agudo. No entanto, deve-se ressaltar que o quadro clínico é a pedra angular na diferenciação entre os dois diagnósticos, sendo o ECG um exame complementar de alto valor, mas, ainda assim, complementar.
Referências
- Smith SW. T/QRS ratio best distinguishes ventricular aneurysm from anterior myocardial infarction. Am J Emerg Med. 2005; 23(3):279–87.
- Klein LR, Shroff GR, Beeman W, Smith SW. Electrocardiographic criteria to differentiate acute anterior ST-elevation myocardial infarction from left ventricular aneurysm. Am J Emerg Med. 2015; 33(6):786–90.
- Scheffer MK, de Alencar Neto JN, De Marchi MFN, Felicioni SP. Eletrocardiograma na síndrome coronária aguda. São Paulo: Manole, 2025.
- Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.