A dor torácica é uma das principais razões que levam pacientes a buscar atendimento médico de emergência. Embora o infarto do miocárdio seja uma preocupação imediata, nem toda dor torácica é causada por isquemia miocárdica. Uma condição raramente diagnosticada — a síndrome do bloqueio de ramo esquerdo (BRE) doloroso — representa um desafio para os profissionais de saúde, pois imita sintomas de angina sem a presença de doença arterial coronariana.
O que é a Síndrome do Bloqueio de Ramo Esquerdo Doloroso?
A síndrome do BRE doloroso é caracterizada pela ocorrência simultânea de dor torácica e BRE, geralmente desencadeado por um aumento na frequência cardíaca, como durante o esforço físico. Diferente da angina clássica, essa condição não está relacionada à isquemia miocárdica — ou seja, não há evidência de obstrução coronariana. Estudos, como o de Shvilkin et al., observaram que o padrão eletrocardiográfico do BRE doloroso apresenta um eixo do QRS inferior e uma baixa razão entre as ondas S e T nas derivações precordiais, indicando um BRE de início recente em vez de crônico.
Mecanismos Possíveis da Dor
Acredita-se que o mecanismo subjacente à dor na síndrome do BRE doloroso seja a contração ventricular dissíncrona causada pelo BRE. Essa dissincronia resulta em uma ativação anormal do miocárdio ventricular, em que as paredes do ventrículo esquerdo são ativadas em tempos diferentes, gerando estiramento e tensão desigual no músculo. Esse fenômeno está associado ao prolongamento dos tempos de contração e relaxamento isovolúmicos, resultando em dor torácica significativa em alguns pacientes.
Como Diagnosticar a Síndrome do BRE doloroso?
O diagnóstico da síndrome do BRE doloroso é desafiador e exige alto índice de suspeita. Durante um teste de esforço, a aparição abrupta de um BRE juntamente com a dor torácica, e o desaparecimento simultâneo desses sintomas no repouso, são indicativos da síndrome. Exames como a tomografia coronariana e a cintilografia de perfusão miocárdica são essenciais para excluir a isquemia miocárdica. Dessa forma, é possível diferenciar o BRE doloroso da angina pectoris clássica e evitar intervenções invasivas desnecessárias.
Tratamento e Prognóstico
As opções de tratamento para a síndrome do BRE doloroso são limitadas e geralmente focam no controle dos sintomas. Betabloqueadores têm sido utilizados com sucesso, pois reduzem a frequência cardíaca e evitam o desencadeamento do BRE doloroso. Pacientes que não respondem a medicamentos podem se beneficiar de marcapasso ventricular direito ou biventricular, uma vez que essas terapias auxiliam na ressincronização da contração ventricular, eliminando a dissincronia responsável pela dor. De maneira geral, o prognóstico é favorável, e a condição tende a ser autolimitada, sem evolução para insuficiência cardíaca.
Veja Também
- Bloqueio de Ramo Esquerdo (BRE)
- Revisando os Critérios de Strauss para Diagnóstico de Bloqueio de Ramo Esquerdo
Pontos Principais
- A síndrome do BRE doloroso é uma condição rara e frequentemente subdiagnosticada, caracterizada pela ocorrência de dor torácica simultânea ao BRE.
- A dor é causada por dissíncronia na contração ventricular, sem evidência de isquemia miocárdica.
- O diagnóstico é feito pela observação do BRE durante testes de esforço, associado à exclusão de doença coronariana.
- Tratamentos como betabloqueadores e marcapasso podem ajudar a reduzir os sintomas.
- O prognóstico é, em geral, favorável, com boa resposta ao tratamento adequado.
Referências
- Shvilkin A, Ellis ER, Gervino E V., Litvak AD, Buxton AE, Josephson ME. Painful left bundle branch block syndrome: Clinical and electrocardiographic features and further directions for evaluation and treatment. Hear Rhythm. 2016 Jan;13(1):226–32.
- Alencar JN de, Sakai MH, Moraes SRR de, Frota ES da, Cirenza C, Paola AAV de. Síndrome do Bloqueio de Ramo Esquerdo Doloroso em Paciente Encaminhada para Estudo Eletrofisiológico: Um Relato de Caso. Arq Bras Cardiol. 2020 May 11;114(4 suppl 1):34–7.