O Novo Paradigma OCA/NOCA: Uma Evolução no Diagnóstico do Infarto do Miocárdio

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O diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM) está passando por uma transformação significativa. Por décadas, a classificação de IAM em com ou sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST e IAMSSST) guiou a prática clínica, focando na presença ou ausência desse marcador eletrocardiográfico como critério principal para decisões terapêuticas. No entanto, novas evidências apontam para as limitações dessa abordagem, especialmente na identificação precisa de oclusões coronarianas que exigem intervenção urgente.

A Evolução do Paradigma: De Infarto com Q e Sem Q até OCA/NOCA

Historicamente, o diagnóstico de IAM baseava-se na presença de ondas Q no eletrocardiograma (ECG), categorizando os infartos como com Q ou sem Q. Com o avanço das terapias de reperfusão, o foco mudou para a identificação de supradesnivelamento do segmento ST, criando os paradigmas IAMCSST e IAMSSST. Embora essa abordagem tenha sido um avanço significativo, ela subestima a complexidade das síndromes coronarianas agudas.

Hoje, o paradigma está evoluindo novamente com a introdução dos conceitos de Oclusão Coronária Aguda (OCA) e Não Oclusão Coronária Aguda (NOCA). Esse novo modelo oferece uma base mais precisa e abrangente para o diagnóstico e manejo do IAM, levando em conta não apenas o segmento ST, mas também outros critérios eletrocardiográficos e exames complementares.

A Sensibilidade do Supradesnivelamento do Segmento ST

Apesar do Supradesnivelamento do Segmento ST ser o sinal eletrocardiográfico mais importante que existe, denotando uma OCA, em uma meta-análise abrangente realizada pela nossa equipe observamos que até 50% das OCAs não apresentam o clássico supradesnivelamento do segmento ST. Isso significa que muitos pacientes com OCA podem não ser identificados a tempo, resultando em atrasos críticos no tratamento.

Sinais Eletrocardiográficos de Oclusão Coronária Aguda

No contexto de OCA, o ECG continua sendo uma ferramenta essencial, mas a interpretação precisa vai além do simples segmento ST. Alguns dos sinais eletrocardiográficos que indicam uma possível OCA incluem:

Conclusão

Essa nova abordagem não só refina o diagnóstico de IAM, mas também destaca a importância da rapidez na intervenção. O paradigma OCA/NOCA abre portas para novas pesquisas e práticas clínicas, especialmente em um contexto onde a acurácia e a personalização do tratamento são cada vez mais valorizadas. Ele também chama atenção para o papel crucial dos médicos em interpretar sinais além do convencional, garantindo que nenhum paciente com oclusão coronariana seja negligenciado.

Referências

  1. Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.
  2. Alencar JN De, Feres F, Marchi MFN De, Franchini KG, Scheffer MK, Felicioni SP, et al. Além do Paradigma IAMCSST-IAMSSST: Proposta do Instituto Dante Pazzanese para o Diagnóstico de Oclusão Coronariana Aguda. Arq Bras Cardiol. 2024;121(5):e20230733.
  3. de Alencar Neto JN, Scheffer MK, Correia BP, Franchini KG, et al. Systematic review and meta-analysis of diagnostic test accuracy of ST-segment elevation for acute coronary occlusion. Int J Cardiol. 2024;131889.
  4. McLaren J, de Alencar JN, Aslanger EK, Meyers HP, Smith SW. From ST-Segment Elevation MI to Occlusion MI: The New Paradigm Shift in Acute Myocardial Infarction. JACC Adv. 2024;3(11):101314.
  5. Aslanger EK, Yıldırımtürk Ö, Şimşek B, Bozbeyoğlu E, et al. DIagnostic accuracy oF electrocardiogram for acute coronary OCClUsion resuLTing in myocardial infarction (DIFOCCULT Study). IJC Hear Vasc. 2020;30.
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Matheus Kiszka Scheffer

Matheus é médico do setor de Tele-Eletrocardiografia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC), autor do livro Eletrocardiograma de A a Z e editor-chefe do site "Aprenda ECG". Possui especialização em Eletrofisiologia Clínica e residência médica em Cardiologia e Clínica Médica.