Onda P

Fisiologia da Onda P

O ciclo cardíaco começa com a excitação atrial, cuja visualização pode ser observada no eletrocardiograma pela onda P. A valva mitral e tricúspide já se encontra abertas pois a pressão no ventrículo é menor do que no átrio e o enchimento rápido já ocorreu, isto é, o sangue que oriundo das veias cava inferior e superior encheram o átrio de sangue enquanto o ventrículo fazia o trabalho de ejetar o sangue

A onda P no Eletrocardiograma

  • A onda P é a primeira deflexão positiva observada no eletrocardiograma;
  • A despolarização dos átrios começa na porção mais externa do átrio direito, o qual propaga-se na parede anterior e no septo interatrial;
  • Depois, de modo simultâneo, a despolarização alcança o átrio esquerdo pelo feixe de Bachmann, cuja função é ativar as paredes anteriores e posteriores do átrio esquerdo. Com esse “leve atraso” entre a despolarização dos átrios, temos que a despolarização do átrio direito é representada pela porção inicial da onda P e a despolarização do átrio esquerdo pela porção final da onda P;
  • A repolarização atrial não pode ser observado no eletrocardiograma por dois motivos: o primeiro é que a repolarização atrial tem baixa voltagem e longa duração, e a segunda é que essa onda ocorre de maneira simultânea ao complexo QRS cujo desfecho oculta essa onda.

Como analisar a onda P em ritmo sinusal

O passo primordial para análise da onda P é observar se ela é visível nos traçados eletrocardiográficos. Elas devem estar em todas as derivações. É importante observar se a onda P se encontra adjunto a onda T em ocasiões em que o intervalo PR está aumentado ou em casos de dissociação atrioventricular.

Em ritmo sinusal normal:

  • O eixo resultante da onda P no plano frontal se situa, em média, entre –30° e +90°, com isso, ela geralmente é positiva em D1, D2 e aVF;
  • Sua duração é menor que 120 milisegundos e sua amplitude na derivação do plano frontal é menor que 2,5 mm e menor que 1,5 mm em V1 e V2.
  • No plano horizontal, a onda P em V1 é difásica, o qual pode ser chamado de plus-minus;
  • A onda P totalmente positiva em V1 não é esperado, o qual pode sugerir ao examinador um ritmo atrial ectópico, o qual geralmente o foco está no átrio esquerdo.

O Índice de Morris

O índice de Morris pode ser definido pela porção negativa da onda P em V1 com ≥ 40 ms de duração e ≥ 1 mm de amplitude e indica sobrecarga atrial esquerda.

Vale ressaltar que para este critério funcionar, é necessário que o vetor V1 esteja bem-posicionado no quarto espaço intercostal e não no segundo espaço intercostal. Ele fica com essa onda plus-minus avantajada na porção minus pois como o átrio esquerdo é posterior em relação ao átrio direito, quando o estímulo passa para o feixe de Bachmann, e como agora tem mais massa atrial, o vetor aumenta seu valor, gerando esse minus aumentado.

Sua razão de verossimilhança positiva é de 9,82 enquanto a razão de verossimilhança negativa é de 0,33. Isso mostra um poder enorme ao ter esse sinal presente pois estamos lidando com um sinal que aumenta em quase 10x a chance de o paciente ter alguma anormalidade atrial esquerda quando ele esta presente.

Vale lembrar que a onda P > 120 ms em D2, D3 e aVF não significa sobrecarga atrial esquerda. Esse achado eletrocardiográfico demonstra um sinal chamado de Bloqueio Interatrial (BIA).

índice de Morris um sinal de sobrecarga atrial esquerda no eletrocardiograma
Índice de Morris

Sobrecargas Atriais Direitas

As derivações D2, V1 e V2 são boas para o examinador observar anormalidades atriais direitas. Em V1 as alterações miocárdicas atriais direitas alteram a primeira metade da onda P, e o fazem com aumento de sua amplitude. Já o complexo QRS pode indicar alterações indiretas.

Os critérios da sobrecarga atrial direita incluem:

  • Onda P > 2,5 mm em D2, D3 e aVF;
  • Porção positiva da onda P > 1,5 mm em V1 e V2;
  • Complexos QR ou qR em V1 (sinal de Sodi-Pallares);
  • QRS de baixa amplitude em V1 < 4 mm, com aumento de sua amplitude > 5 vezes de V1 para V2 (sinal de Peñaloza-Tranchesi-Reeves).

A p pulmonale pode ser um bom indicador para sugerir doenças pulmonares como a Asma e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

Ondas e Intervalos do ECG

  • Onda P
  • Intervalo e segmento PR
  • Complexo QRS
  • Segmento ST
  • Onda T

Referencias

  1. Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.
  2. Scheffer MK, Ohe LN, de Alencar Neto JN. Manual Prático de eletrocardiograma. 2022.
  3. Alencar JN. Tratado de ECG. 2022.
  • Henrique Otávio Melo de Assis

    Estudante de medicina na FAMERP. Ex-diretor científico na Sociedade Brasileira das Ligas de Cardiologia (SBLC). Entusiasta do estudo eletrocardiográfico e seus diagnósticos desde o segundo ano da faculdade de medicina.

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