ECG na Síndrome de Takotsubo

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Dor torácica, alterações no ECG e marcadores cardíacos elevados. Tudo parece um infarto, mas a angiografia não mostra obstrução coronariana significativa. Essa é a cena clássica da síndrome de Takotsubo, também conhecida como síndrome do coração partido.

Neste post, você vai entender:

  • As principais alterações eletrocardiográficas da Takotsubo
  • A evolução temporal típica do ECG
  • Como diferenciar da SCA, especialmente do infarto anterior
  • E quais achados no ECG estão associados a maior risco clínico

O que é a síndrome de Takotsubo?

A síndrome de Takotsubo é uma forma de miocardiopatia transitória desencadeada por estresse físico ou emocional intenso, caracterizada por disfunção contrátil — geralmente envolvendo o ápice e segmentos médios do ventrículo esquerdo. Acomete sobretudo mulheres pós-menopáusicas e se apresenta como uma síndrome coronariana aguda (SCA), mas sem lesão obstrutiva nas coronárias.

Alterações eletrocardiográficas mais comuns

As alterações de ECG estão presentes na maioria dos casos, sendo os principais achados:

Evolução temporal típica em 4 estágios

O ECG na Takotsubo apresenta uma evolução bem característica:

EstágioAlterações no ECGTempo desde os sintomas
1Supradesnivelamento do STImediato até poucas horas
2Normalização do ST + início da inversão da T1 a 3 dias
3Ondas T invertidas e profundas ou transição2 a 6 dias
4Persistência ou normalização da TSemanas a meses

Essa cronologia ajuda a distinguir da evolução do ECG no infarto agudo do miocárdio.

Como diferenciar Takotsubo de infarto anterior?

Apesar da semelhança clínica e eletrocardiográfica, alguns achados favorecem Takotsubo:

CritérioAchado sugerindo Takotsubo
ST em V1Ausente ou discreto
ST em D2 maior que em D3Frequente
ST na aVR negativo (> 0,5 mm)Forte indicativo
QTc > 500 msMais comum e prolongado
Onda QRara e transitória
Sem depressão recíproca inferiorAjuda a diferenciar de IAM extenso

👉 Estudos mostram que a relação entre a soma de ST em V4–V6 e V1–V3 > 1 favorece Takotsubo
👉 A fórmula de Kosuge: (3 × ST em V2) + ST em V3 + (2 × ST em V5) < 11,5 mm → Alta sensibilidade e especificidade

Entretanto, apesar das diferenças, existe uma sobreposição dos achados clínicos e eletrocardiográficos e a realização da coronariografia está indicada excluir o diagnóstico de IAM.

Outros achados eletrocardiográficos

Além das alterações de repolarização, alguns achados mais raros podem ocorrer:

Arritmias como fibrilação atrial (≈ 5%) e torsades de pointes (em casos com QTc muito prolongado) também foram descritas.

Prognóstico e ECG

Alguns achados estão associados a maior risco:

  • QTc > 500 ms: risco aumentado de eventos e morte súbita
  • Taquicardia sinusal persistente
  • Soma da elevação de ST > 15 mm: risco maior de complicações

Apesar de transitória, a Takotsubo não é benigna em todos os casos, especialmente se houver instabilidade hemodinâmica.

Conclusão

A síndrome de Takotsubo pode ser uma grande imitadora do infarto, e o ECG é peça-chave no diagnóstico. Conhecer seus padrões eletrocardiográficos — especialmente sua evolução temporal e ausência de ST em V1 com ST negativo na aVR — pode auxiliar no diagnóstico diferencial e na decisão clínica precoce.

Mas atenção: quando a dúvida persiste, a coronariografia continua sendo fundamental para excluir o infarto verdadeiro.

Referências

  1. Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.
  2. Chhabra L, Butt N, Ahmad SA, Kayani WT, Sangong A, Patel V, et al. Electrocardiographic changes in Takotsubo cardiomyopathy. J Electrocardiol. 2021;65:28–33.

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Matheus Kiszka Scheffer

Médico do setor de Tele-Eletrocardiografia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC), autor do livro Eletrocardiograma de A a Z e editor-chefe do site "Aprenda ECG". Possui especialização em Eletrofisiologia Clínica e residência médica em Cardiologia e Clínica Médica.