O Algoritmo de Brugada, desenvolvido em 1991, trouxe uma abordagem inovadora para o diagnóstico diferencial entre taquicardia ventricular (TV) e taquicardia supraventricular com condução aberrante (TSV-A). Este foi o primeiro método a oferecer uma estrutura sequencial para distinguir essas condições complexas e, desde então, se consolidou como uma das ferramentas mais utilizadas no diagnóstico de taquicardias com QRS largo.
Introdução ao Algoritmo de Brugada
O Algoritmo de Brugada é composto por quatro etapas sequenciais, cada uma com critérios bem definidos que facilitam a interpretação do eletrocardiograma (ECG) durante episódios de taquicardia com QRS largo. A aplicação dessas etapas permite determinar se a taquicardia é originária dos ventrículos (TV) ou se é uma taquicardia supraventricular com condução aberrante (TSV-A). Se qualquer uma das etapas resulta em uma resposta positiva, sugere-se o diagnóstico de TV; já se todas as respostas são negativas, sugere-se a presença de TSV-A.
Etapas do Algoritmo de Brugada
- Presença do complexo RS em todas as derivações precordiais: Se não houver um complexo RS visível em qualquer uma das derivações precordiais, o diagnóstico é confirmado como TV, pois a ausência de um complexo RS é altamente específica para TV.
- Intervalo RS maior que 100 ms: Caso um complexo RS esteja presente, mede-se o intervalo entre o início da onda R e o nadir da onda S. Se o intervalo for superior a 100 ms, o diagnóstico de TV é feito. Esse critério se baseia no fato de que a ativação ventricular inicial é geralmente mais lenta em TV do que em TSV-A.
- Dissociação atrioventricular: A presença de dissociação atrioventricular é específica para TV, indicando que os átrios e ventrículos estão descompassados, o que é característico de uma origem ventricular.
- Critérios morfológicos: Por fim, se o diagnóstico ainda não foi concluído, analisa-se a morfologia do QRS em V1, V2 e V6.
Critérios Morfológios
- Derivações com padrão de bloqueio de ramo direito (BRD):
- Em V1: A presença de uma onda R monofásica ou um complexo QR indica TV.
- Em V6: Um complexo QS ou um complexo QR sugere TV, especialmente em contextos onde o padrão de BRD está presente.
- Derivações com padrão de bloqueio de ramo esquerdo (BRE):
- Em V1 e V2: A presença de uma onda R larga (com duração maior que 30 ms), ou a descida da onda S com entalhe (sinal de entalhe) é característica de TV.
- Em V6: A presença de um complexo QS ou QR favorece o diagnóstico de TV.
Conclusão
O Algoritmo de Brugada revolucionou a abordagem diagnóstica para taquicardias com QRS largo, sendo uma ferramenta prática e confiável para a diferenciação entre TV e TSV-A. Este método é essencial para médicos e estudantes de cardiologia e eletrofisiologia, proporcionando uma base sólida para a interpretação rápida e precisa dos ECGs em contextos de urgência.
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Referências
- Scheffer MK, De Marchi MFN, de Alencar Neto JN, Felicioni SP. Eletrocardiograma de A a Z. São Paulo: Manole, 2024.
- Brugada P, Brugada J, Mont L, Smeets J, Andries EW. A new approach to the differential diagnosis of a regular tachycardia with a wide QRS complex. Circulation. 1991 May;83(5):1649–59.